Um tema para 2020: Corpo; um evento: Olimpíada

 

Escrito por: Direção Pedagógica
Judy Galper e Claudia Fenerich

 

 

“Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor sabedoria”.
  (Nietzsche)

 

Todo ano, realizamos na EDEM um grande evento que canaliza a maior parte da atenção da escola e dos trabalhos da equipe. Em geral, o mote varia bienalmente, alternando entre Ciências e Artes. De quatro em quatro anos, coincidindo com o calendário oficial, entram também em cena os Jogos Olímpicos. Pode acontecer ainda de ser um evento relacionado à história da EDEM, como foi no ano passado, com a comemoração dos 50 anos da escola.

Desse grande evento, surge o tema de estudos que é desenvolvido ao longo do ano por todos da escola; primeiro os professores, em encontros de equipe, e depois os alunos, em sala de aula.

Como 2020 é ano de Olimpíadas, o corpo naturalmente ganha destaque dentro e fora do espaço da escola. Mas… que corpo? Corpo de quem? E o que se fala sobre ele? 

Quando o corpo se torna o tema, a gama a ser considerada é ampla. Podemos ir do fisiológico ao político, passando por aspectos culturais e religiosos. Para os nossos estudos em equipe, partimos da problematização sobre a forma como o corpo entra e habita na escola. Se o corpo está sempre presente, mesmo quando é negado, pois sem ele não existimos, não nos relacionamos, não aprendemos, como é que nossos alunos e alunas existem, se relacionam e aprendem com o corpo no espaço da nossa escola? Como nós, educadores, nos posicionamos diante da histórica disputa travada, dentro da escola, entre o corpo singular que guarda memórias, expõe marcas, afirma diferenças e a mente universal que abstrai, generaliza, compreende e cria ideias?

Nossos questionamentos iniciais, feitos ainda em 2019, nos levaram a buscar referências e a encontrar no pensamento contemporâneo do historiador Luiz Antonio Simas uma articulação do corpo e do espaço da escola com o projeto colonial moderno que foi fundamental para definir uma perspectiva orientadora para os estudos que serão desenvolvidas na escola em 2020.

Simas, que trabalha a história do Rio de Janeiro a partir das formas de socialização e cultura criadas na diáspora africana, problematiza, em uma aula para professores de história dada na FGV, as relações entre escola e colonialismo, afirmando que a escola, longe de ser um espaço libertador, é tradicionalmente o espaço da normatização tributária do poder colonial, que incide sobretudo no corpo, domesticando-o e marcando-o com a lógica do pecado, do trabalho, da virilidade e da reprodução. Utilizamos esta aula na Reunião de Abertura do ano com a equipe de professores, para introduzir o tema e abrir o debate no grupo e o resultado foi muito bom: equipe motivada para pensar o tema e elaborar projetos a partir dele. Para envolver também as famílias nessas reflexões, vamos promover a aula aberta “A educação e os enunciados dos corpos”, com Luiz Antonio Simas, no dia 11 de março. 

2020 será o ano da IX edição da Olimpíada EDEM, evento muito querido pelos alunos e alunas, porque quebra a rotina por uma semana, voltando todo o espaço da escola para o esporte, a torcida, a competição e o lúdico. Mas vamos pensar e trabalhar o corpo em suas múltiplas dimensões e possibilidades, e não apenas no que diz respeito à prática esportiva, ao vigor físico e às questões da área da saúde.

As equipes do Ensino Fundamental 2 e do Ensino Médio já começaram a elaborar sobre o tema, para desenvolvê-lo em sala de aula, a partir de uma ideia geral apresentada pelas coordenações. No Ensino Médio, o recorte proposto foi “A Necropolítica e a Decolonização epistemológica”. O roteiro a ser desenvolvido pelos professores inclui ações como desnaturalização do eurocentrismo; identificação de termos e conceitos colonizados; utilização de outras referências epistemológicas como contraponto, além de elaboração de novo mapa conceitual por disciplina. Para os professores do Ensino Fundamental 2, o tema proposto foi “Subjetividade e Corporeidade x Saber Universal”. Alguns subtemas já foram apontados: Beleza e alimentação, Festas e rituais que marcam as mudanças corporais, Saúde e tecnologia, O corpo no espaço público e escolar. Agora, cada professor vai desenvolver estudos relativos a seu objeto de conhecimento, para depois encaminhar o tema no contexto da sua disciplina.

Na Educação Infantil e Ensino Fundamental 1, os professores de turma vão elaborar os projetos de trabalho junto com os alunos, com base em perguntas formuladas por eles.

Enfim, por enquanto estamos no início desse processo ainda, mas ele, com certeza, vai longe, culminando em muitas produções. Vamos dar visibilidade a muitas delas nas nossas mídias sociais e esperamos que algumas resultem também em bons textos para serem publicados neste blog. Aproveitando que o corpo é o tema do ano, vamos também divulgar aqui, em breve, um texto sobre o trabalho de consciência corporal que há anos é realizado na EDEM com turmas da Educação Infantil e de todo Ensino Fundamental. Aguardem!

Estamos confiantes de que o trabalho com este tema vai frutificar bastante, contribuindo para que possamos compreender o ser de forma menos fragmentada e mais integral dentro do espaço da escola. Alimentamos, inclusive, a expectativa de que pensar o corpo coletivamente aflore a sensibilidade de todas e todos, ajudando a vitalizar as relações interpessoais estabelecidas na EDEM. Para isso, contamos com o engajamento de toda a comunidade escolar nesse processo: equipe, alunos e alunas e, claro, também as famílias. 

 

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